sábado, 27 de fevereiro de 2010

Silêncio: um luxo contemporâneo

Na sacada de nosso apartamento colocamos todas as manhãs comida para os passarinhos. De tempos em tempos podemos avistá-los, mas todos os dias acordamos com os seus cantos próximo de nossas janelas. Na retomadas das nossas atividades laborais depois de um gostoso período de férias, além de termos que retornar ao trabalho, alterando o ritmo; e, acelerando-o, temos um componente que aumenta sensivelmente: o barulho.

Quanto tempo você fica sem ouvir nenhum tipo de ruído? O toque do seu telefone te incomoda? Se ficar fazendo perguntas sobre os ruídos e barulhos teríamos uma infindade de "coisas" que você me diria que lhe deixa muito irritado.

Pois é. O silêncio a cada dia vem se tornando um artigo de luxo e pessoas estão pagando muito caro para tê-lo. Pagando pelo silêncio? Isto mesmo. Quando desejo não ouvir ninguém coloco os meus fones ultra-modernos que custam o dobro dos normais para ouvir apenas a música. Quando queremos relaxar, geralmente nos isolamos em locais voltados a natureza. Aqui cabe uma histórinha: "no meu grupo de mestrado resolvemos fazer um rafting. Então, procuramos uma empresa que nós proporcionou a experiência. Depois de quase 2 horas de remadas rio abaixo e rio acima, os braços tremiam desgastados por tanto esforço. Um dos componentes do barco, contemplou a paisagem que era belissima e disse: que higiene mental."

Nilton estava querendo dizer que a tal higiene mental era um momento diferente, em um lugar diferente, um situação nova e um grupo de pessoas diferentes daquele que ele estava acostumado. Mas principalmente a higiene se relacionava aos sons que ouviamos. O canto dos pássaros, do barulho da água e das nossas proprias mentes. Tem um autor que não me recordo o nome que diz o seguinte: prefiro o dialógo comigo mesmo, do que o monológo com minha mulher.

O silêncio tem esta propriedade. A propriedade do dialogo interno, da reflexão, da contemplação e da possibilidade de desenvolvimento individual. Digo isto porque imerso a uma quantidade de barulho fica dificil a concentração e o desenvolvimento da criatividade, acarretando em  uma diminuição na produtividade.

Esses tempos contei a quantidade de telefones que tocavam no local onde trabalho, visto que trabalhamos em ilhas. Aproximadamente 11 telefones tocavam ao mesmo tempo. Pessoas passando, gente falando e pouco silêncio. Acostumei até por um tempo a ler com o radio ligado, pois tanto era o barulho que não conseguia ficar sem.

Que luxo nossos avós tinham quando podiam apenas ouvir os passaros sem as buzinas dos carros. Que bom era ouvir o mar sem o funk do vizinho de guarda-sol. Mas, mais maravilhoso ainda era conversar no botequim da esquina e não ouvir a nuvem de som da praça de alimentação do shopping.

Por favor, fale baixo. Se o silêncio é um luxo, precisaremos daqui a alguns dias juntar dinheiro para comprá-lo. Então, economize.

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