quarta-feira, 30 de junho de 2010

Efeito Maradona: liderança por meio do carisma

Confesso que nunca fui um apaixonado nem pela Argentina e nem por Dieguito; e, em minhas lembranças infantis e juvenis de copa do mundo, quando lembro de Maradona, lembro da cena na qual o atacante sai de mãos dadas com a enfermeira do anti-dopping.

Como minha origem acadêmica vem da Educação Física e do Esporte muitas vezes Dieguito foi alvo das minhas críticas quanto sua postura profissional, na qual muitas vezes os questionamentos estavam em nível de que tipo de pessoa um país inteiro idolatrava e admirava como seu ídolo maior?

Nunca estive em La Boca ou mesmo em um campo de futebol assistindo Diego Armando Maradona, mas estive na periferia de Nápoles, circulando as vias junto ao povo; e, a cada via napolitana me chocavam as imagens de Maradona nas paredes dos prédios, muros, camisetas antigas penduradas nos varais - aqueles varais típicos italianos, bandeiras do Napoli. Nas tabacarias que na Itália vendem de tudo e mais um pouco, tinham camisetas, canecas e suvenirs de Dieguito. Estávamos em 2007 e sua contratação no Napoli foi em 1984.

Uma pergunta não saia da minha cabeça. Porque? O que este intransigente argentino tinha? Fillipo Petti e mais dois senhores de Erculano - cidade próxima de Nápoles me explicaram: "Gerardo, Maradona sei um Dio" Ainda assim eu não entendia. Então foi que Filippo me traduz não para o Português, mas em um napolitano de rachar os ouvidos o que realmente Maradona era para aquela gente.

"Na década de 1980 o Sul da Itália sofrera muito com problemas econômicos-financeiros, sociais; e, para completar não era bem visto pelo resto do país, já que o Norte da Itália possui uma vida econômica mais ativa. Então em 84 surge Maradona com uma chegada triunfal ao estadio San Paolo di Napoli, confesso que é um estadio fantastico, tive a oportunidade circunda-lo. Fica no coração de Napoli e esta rodeado de bandeiras azuis claras com um N de dar inveja a qualquer escudo futebolístico.

Na época Maradona ao descer do helicóptero fala: "Buona Sera Napolitani. Sono molto felicci di essere come voi". (Boa noite napolitanos, Sou muito feliz de ser como vocês). Dá um chute na bola que toma a altura da arquibancada superior. A torcida vai ao delírio.


O poder do futebol e do carisma era tanto que na Copa do Mundo de 1990 realizada na Itália, Dieguito convoca a população de Napoles para torcer para a Argentina, dizendo:

"Durante trezentos e sessenta e quatro dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros e, hoje, têm de fazer o que eles querem, torcendo pela seleção italiana. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano"

Além de criar um problema nacional entre sulistas e o resto do país ele mostra para quem quiser ver que sua liderança carismática vai além da habilidade e da mão de Dios que por alguns momentos lhe ajuda.

Depois de um passado negro em sua história de vida, que atire a primeira pedra quem não fez nada que hoje possa envergonhar-se ou ser apenas fatos para uma biografia recheada; e, que recheio tem a de Maradona, a criatura me aparece repaginada em uma copa do mundo que a Argentina com um time de estrelas se classifica apenas na repescagem.

Traja ternos que com certeza devem ser italianos, um corte de cabelo e uma barba de dar inveja a qualquer estilista de moda. Se não bastasse tudo isto e sua história nos campos e fora dele, Dieguito se apresenta como o personagem da copa da Africa do Sul, mostrando a todo o mundo o que um líder carismático pode fazer com um grupo de pessoas. Beijos, abraços, sorrisos e muito alegria. Quem sabe nosso hermano não esta recuperando a forma que tinha quando estava no Napoli? Será que os revezes da vida não foram por que estava longe dos gramados, ou nunca teve alguém que fizesse por ele o que ele esta fazendo pelos atletas? Suposições, meras suposições. Por que Maradona pode queimar minha língua.

Quanta confiança, quanto bom humor; e, vocês sabem, bom humor contagia, entusiasma, inspira. Mesmo que  não entendesse nada de futebol, que acho difícil, sendo um líder carismático e aproximando o grupo para alcançar os seus objetivos a equipe com certeza trabalharia para amenizar as deficiências técnicas do líder. Isto se resume na minha visão em uma simples palavra: Paixão. Ele, Diego Armando Maradona esta apaixonado, quem sabe não apenas pelo futebol e sua boa fase na copa até as quartas de finais, mas pela vida.

E se o significado da palavra entusiasmo que dizer "ter um Deus dentro de si", que sabe os Deuses Napolitanos voltaram a frequentar a alma desta criatura. Deveriam passar também pela alma do comandante da seleção brasileira, que comanda, mas não inspira, não traz alegria, não converge, não agrega. Que sorte que temos um representante fiel da nossa brasilidade chamado Robinho, que traz alegria e joga com a habilidade das raízes dos capoeiras. Um líder carismático. Alguém teria que ser, já que nosso capitão é como era o Dunga, até com o cabelo em pé e cara de brado, mas eficiente; e, burocrático.


Salve Maradona, como diriam os Napolitanos e Robinho "não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar..." Que vençam aqueles que forem competentes e que tenham carisma e alegria, pois o nosso mundo esta muito chato.
 
Pedala Robinho. Pra cima deles meu querido.


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