quinta-feira, 27 de maio de 2010

De Paestum a Livraria Saraiva: deixe seu filho ter contato

Neste mês de maio tenho contado um pouco das minhas histórias com as crianças da minha família: meu filho e minhas sobrinhas e terminarei as postagens deste mês com um pequeno acontecimento.
Depois de um dia cansativo de trabalho saí da universidade e convidei Fernanda e João Vitor (esposa e filho) para um passeio no Shopping. Primeira parada: livraria, quer dizer Mega Store.

Na porta de entrada larguei a mão do galego de 4 anos e disse: daqui para dentro faz o que tu quiseres. O galego saiu correndo pelo meio das prateleiras e foi direto as telas brilhantes dos note books que piscavam as suas publicidades e depois foi para os DVDs.

Ao encontrar seu filme preferido resolveu fazer o test drive das texturas. Nas gôndolas redondas e naquelas que os livros estavam no alcance das mãos ele corria com o braço esticado e passando uma das mãos nas capas. Cada capa diferente ele queria passa a mão e cheirar o livro.

Ao descobrir o espaço kids ai mesmo que a festa ficou completa. Pegou um livro que tinha uma tumba faraônica na capa e apertava, dizendo: pai, lê pra mim. Durante alguns minutos de leitura o cara volta a correr dentro da loja e a procurar novos atrativos naquela imensidão de cores, tamanhos e formas.

Ao passar por uma mãe e dois pequenos assim como o meu ouvi ela dizer em tom ríspido: Braços para trás; Lucas. Braços para trás. Logo pensei que; ou deveria estar assustada com as peripécias de João Vitor, ou tinha medo de que os filhos fossem pegar algum vírus ou bactéria dos livros novos.

Agora cabe a minha reflexão. Prefiro que o João Vitor pegue um vírus da cultura e conhecimento do que pegue uma bactéria da indiferença. Cultura e informações que depois se transformam em conhecimento se transmitem por osmose, contato, química.

Me lembro de uma passagem da minha esta na Itália, quando comprei um livro infantil da História de Ulisses para o João Vitor. Estávamos no Jardim do Múseo de Paestum (cidade que conheci nos livros como Posseidon), vendo o por do sol por trás do Templo de Atenas e um dos amigos de viagem perguntou-me: Gerardo, por que levar um livro em italiano se teu filho não sabe nem ler ainda em português? Na época João Vitor tinha 1 ano e meio. Disse ao amigo Fillippo Peti, um arqueólogo medieval brilhante: Amico. A vida é feita de contato, de estímulo. Se não levo nada, ele não vai saber que existem outras coisas além daquilo que conhece. Quando eu chegar no Brasil vou ler em italiano o livro de Ulisses. Assim teremos um começo de uma nova cultura na família. 

O sol  se foi e fiquei ali pensando que aquilo que eu acabara de falar tinha um significado muito maior do que eu imaginava. É isto mesmo, contato, sentidos e percepções; sejam elas sensoriais ou não. Deixem os carinhas cheirarem, tocarem, ouvirem, pois se amarramos as mãos para trás estaremos amarrando a possibilidade de conhecerem o mundo. Limites e orientação não fazem mal nenhum, inclusive ajudam a criar os discernimentos necessários para uma vida adulta feliz. Deixe seu filho voar!

Um comentário:

  1. Brilhante meu amigo, como você e nossa amizade... saudades... abraços. Fabio Andretti

    ResponderExcluir